Páginas

terça-feira, 2 de outubro de 2007

relato sombrio

"... eu nunca me senti tão sozinho como me sinto agora, não entendo, achei que seria diferente, as coisas mudaram e eu nem percebi, apenas me acostumei, eu nunca senti tanto frio e tanta dor como sinto agora, estou muito confuso. me sinto como se todas as pessoas estivessem chamando meu nome e eu não sei pra quem olhar e nem pra onde correr, é estranho mas não poderia ter acontecido agora, hoje perdi minha inspiração, isso já aconteceu com você?..."

um grande presente

"... ontem meu filho veio me visitar, ele me trouxe um belo livro, o que ele não sabe é que meus olhos não conseguem mais entender nem mesmo as pequenas letras das cartas que me escreve, tudo que eu queria era ouvir a sua voz, mas ele não disse nada, me beijou o rosto e partiu, acho que ele vai voltar um dia e vai ler para mim suas cartas e seu livro, mas ainda é cedo, vivo esperando que nunca seja tarde demais..."

sinfonia

"... porque depois de tanto tempo você teve que me olhar? não foi você que chorou, nem foi abandonada. porque agora você me procurou? não foi você que perdeu o sono, nem as desculpas soube inventar. ainda não entendo porque falta a sua foto no álbum velho, mas seu nome está lá, porquê? nunca vou esquecer o seu sorriso, nem o cheiro do seu cabelo, nunca! mas você não precisava ter voltado, sempre vou olhar pra você como antes, seu nome soa tão bem. desta vez eu deixo você ir, não estou mais com medo, apenas saudades..."

no silêncio

"... vivo o silêncio como uma conquista, nada me passa despercebido, depois do espetáculo, quando as luzes se apagam e os ventos começam a soprar o silêncio é o conforto, ninguém conhece a verdadeira lágrima do ator. será que ainda tenho que atuar? por quanto tempo mais este silêncio? tenho vontade de gritar, mas o silêncio agora é meu vício, as lágrimas que caem não são realmente verdadeiras, agora tenho uma bela carreira, não tenho mais as minhas chaves, será que alguém ouve o meu silêncio?..."

amor

"... amar é esquecer os seus sonhos e encarar a realidade..."

o velho

"... ando como um velho caminhando pela calçada a passos lentos numa tarde sem graça, quinta-feira e tudo que eu vejo é a minha sombra ao por do sol, uma pequena mala na mão e um sonho, mais sombras vão se misturando, mas ninguém pára... o que antes era amor agora se traduz em me esconder despretensiosamente em frente a janela, vendo ela passar todos os dias, cada um diferentemente do outro, até que me dou conta de que já não é mais a mesma que amei, porque o tempo passou e eu, eu parei... tudo que eu tinha era tempo, e hoje não tenho mais, você, ela, eu, eu não sei, mas o amanhã sim, esse vai chegar onde quer, e o que ele vai levar dessa vez? só agora entendo que o velho não era eu, mas sim o meu amor por ela..."

o começo de tudo

"... bem me lembro quando ainda era jovem, cheio de vida... descobri coisas que prefiro esquecer, entendi piadas e olhares, era tão destemido e tão obstinado, mas em algum lugar perdi tudo isso, como quem esquece um molho de chaves, e se assim é, alguém as encontrou, e não devolveu. hoje penso que aquilo não era vida e que por não ter vivido nunca vou morrer, e se alguém está com as minhas chaves, por favor deixe-as onde encontrou..."

solidão

"... pode até não parecer verdade, mas eu sigo esperando aquilo que nem mesmo eu sei o que é, talvez algo ou alguém, e não tenho ajuda ao tentar encontrar o meu caminho de volta pra casa, quem sabe seja logo ali na frente, não sei, vou tentar mais algumas vezes até desistir, não por ter falhado mas por achar que talvez eu nunca encontre, e sigo esperando, confuso, vazio, sozinho e faminto..."